Por Shane Snow
Um dia desses, fiquei impressionado com uma citação que li num blog post sobre vulnerabilidade, do autor e professor de Wharton Adam Grant: “Bons comunicadores fazem-se parecer inteligentes e fazem suas audiências se sentirem inteligentes”.
As palavras de Grant me lembraram de quando eu descobri, para meu horror, que eu escrevo num nível de leitura da oitava série. Esta descoberta levou-me a estudar níveis de leitura de grandes escritores (e também de alguns não tão grandes). Acontece que os autores mais populares tendem a escrever para um nível mais baixo de leitura, do que uma típica pessoa em seu campo de atividades.
Eu cheguei à conclusão que este tipo de escrita é popular porque, como diz meu professor favorito da escola de jornalismo “Grande escrita acelera sua leitura”. Se você não precisar buscar o significado de palavras, ou pensar sobre o que estiver lendo, você vira as páginas mais rapidamente, e as desfruta mais – mesmo que você for capaz de ler prosa mais avançada.
Mas, a citação de Grant também me fez pausar. Ela acrescentou outra dimensão à minha teoria sobre o que é escrever bem. Também há um monte de trabalho ruim, incomum, escrito para níveis de leitura mais baixos. Portanto, qual é a diferença?
Eu acho que é esta:
A pior escrita faz você se sentir burro e é difícil de ler. Neste cenário, ou você está num nível muito convencido, ou o autor não conhece sua audiência.
Uma escrita demasiado simplista ou paternalista é levemente mais palatável. Essas palavras o fazem dizer “Ugh”, mas, pelo menos, elas não desperdiçam muito do seu tempo.
Então, vem a escrita que nos torna mais inteligentes, melhores pessoas, mesmo que a leitura seja difícil. A maioria dos livros de texto, dos quais eu me lembro da faculdade, era lida assim. O Capital no Século XXI (Capital in the 21st Century) de Piketty era assim para mim (embora eu admita que não sou um economista, logo ele pode ter sido mais fácil para sua audiência alvo entender).
Mesmo umas poucas notáveis exceções nas quais eu sou capaz de pensar, como David Foster Wallace, cuja linda prosa é extraordinariamente tediosa, tendem a se encaixar no diagrama acima. O trabalho de Wallace é gratificante, se você for capaz de passar por ele. Mas, se eu ganhasse um dólar por cada pessoa que eu conhecesse, que ainda tenha o livro Infinite Jest (Piada Infinita) em sua cabeceira, com um marcador na página 10…
Portanto, você faz sua audiência se sentir inteligente? Ensine a ela algo novo. Mas, faça isto de maneira agradável.
Mas, quando você olhar para escrita que gira por todo o mundo – artigos que viralizam e livros que estouram – você notará que, simultaneamente, eles fazem você se sentir inteligente e cheio de energia. Eles não são uma tarefa. Eu estou pensando sobre cada livro de Malcolm Gladwell (nível de leitura de oitavo grau), que me dá 25 coisas sobre as quais eu posso falar no bar. Eu penso sobre os livros de Sheryl Sandberg de os [wt_tooltip title=”Op-ed é um americanismo, abreviatura de ‘opposite editorial page’ (oposto à página dos editoriais), que designa a página de um jornal na qual são expressas opiniões de colunistas ou comentaristas… A maioria dos artigos op-ed vem sob a forma de um ensaio ou tese, usando argumentos para demonstrar o ponto de vista do autor.” tooltip_placement=”top”]op-eds[/wt_tooltip] do New York Times (7,5 graus), que me fazem ver o mundo de maneira diferente e ter vontade de ler mais. Eu penso sobre Jon Ronson (6,5) e J. K. Rowling (5,5) pelo mesmo motivo. E eu penso sobre o jornalismo de Ezra Klein e de Nate Silver, que traduz materiais difíceis em insights e gráficos esclarecedores.
Os melhores livros infantis também se encaixam no quadrante superior direito do diagrama (Alô Dr. Seuss!). Livros que são fáceis de ler, à medida que ajudam crianças a aprender, são extraordinariamente gratificantes. Não é surpresa que eles sejam populares.
Este sistema é o motivo pelo qual estou convencido de que O Código Da Vinci vendeu 80 milhões de exemplares, apesar da sua crítica. O autor foi ridicularizado por outros (talvez ciúmes) por sua prosa simplista, e pelo uso de clichês, mas adivinhe o que aconteceu? Ele é fácil de ler. E seus quebra-cabeças e reviravoltas fazem nos sentirmos inteligentes e os adivinhamos antecipadamente.
Se esses autores populares pensam ou não sobre isto, o fato é que eles conhecem o ponto de Grant: A comunicação deve ser sobre a audiência, não sobre nós.
Nenhuma audiência quer trabalhar mais duro que o necessário. Ninguém quer se sentir estúpido. As audiências não ligam para sua esperteza, se você as fizer se sentirem burras. Assim mesmo, frequentemente, nós achamos que nosso trabalho é fazer exatamente isso. Logo, usamos grandes palavras e complicamos as coisas. E, então, diminuímos nosso alcance potencial. Como disse Grant em seu post, “Isto não é sobre você, é sobre eles”. Portanto, como você pode fazer sua audiência se sentir inteligente? Ensine a ela algo novo, mas faça isto de uma maneira agradável.
Um dos meus exemplos favoritos sobre como fazer isto é o meu amigão Tim Urbam, que escreve o popular blog WaitButWhy. Ele zomba da sabedoria convencional sobre curtos períodos de atenção, escolhendo publicar blog posts de 10.000 palavras, sobre assuntos como o funcionamento da inteligência artificial, o congelamento criônico, e o carregamento de nossos cérebros para computadores. Isto é intenso, mas ele tem milhões de leitores leais (e, grande surpresa, ele geralmente escreve para nível de leitura abaixo do oitavo grau). Você termina de ler seus posts achando que sabe algo novo e complexo, sem ter tido que trabalhar tão duro.
Isto é como superar um nível mais traiçoeiro de um jogo de vídeo game, na primeira tentativa. Ninguém se importa com o nível de esperteza do projetista do jogo. Nós apenas ligamos para o fato de se gostamos ou não do jogo.
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Sobre o autor: Shane Snow é um jornalista de tecnologia na cidade de Nova Iorque, co-fundador e CCO da Contently, tem mestrado em Jornalismo pela Universidade de Columbia e é fellow da Royal Society of the Arts.
Fonte: The Content Strategist
Imagem por iStockphoto
Tradução: Fernando B. T. Leite
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1 Comentário
Parabéns, pelo post. Muito bom!