Por Carlos Ragazzo
Diversos veículos de mídia publicaram matérias nesta semana relatando que, em Israel, consumidores promoveram um protesto no Facebook contra aumentos de preço, na ordem de 40% ao longo de três anos, por parte dos produtores de derivados de leite (o produto, em específico, era o queijo cottage). A campanha rapidamente chamou atenção da mídia por ter reunido mais de 105 mil pessoas organizando um boicote contra a compra do produto até que as companhias baixassem os seus preços.
O resultado? As três principais empresas israelenses de derivados de leite efetivamente reduziram os preços em 25%. E o interessante desse movimento é que, agora, há uma expectativa de novos protestos e boicotes via redes sociais, desta vez para pressionar a redução de preços em outros mercados, como gasolina, eletricidade, além de diversos gêneros alimentícios. O Facebook se transformaria em uma forma de controle da inflação, sem aumento de juros.
Alguns aspectos específicos de Israel facilitam boicotes desse gênero. É um país de população relativamente pequena, com altos graus de acesso à internet (e, em particular, a redes sociais). E, além disso, o aumento do preço no queijo cottage foi considerado com um verdadeiro símbolo do aumento de custo de vida em Israel (o produto em si é praticamente um símbolo nacional). Daí o grau de adesão ao boicote. E isso sem contar com o fato de que não é particularmente difícil ficar sem comprar queijo cottage durante um mês (ou até mais).
Mas o precedente sinaliza algumas mudanças. As próprias empresas israelenses declaram que irão avaliar se o movimento no Facebook pode ou não ter dado início a uma nova forma de relacionamento entre produtores e consumidores, proporcionando maior equilíbrio. Isso porque as redes sociais não só facilitam formas de expressão por parte dos consumidores (como, no caso, protestos e reclamações), mas também reduzem os custos de organização para movimentos do gênero (de combate a aumentos de preços via boicotes). E têm efetivamente o potencial de mudar a cultura de consumo, até hoje passiva, além de estimular as empresas a desenvolver novas formas de gerenciamento de crises na era digital.
Pode ser precipitado achar que movimentos semelhantes irão acontecer em breve no Brasil, onde o grau de acesso à internet ainda é reduzido (embora sejam crescentes as adesões às redes sociais, como se vê de Orkut, Facebook e Twitter). Aqui, consumidores já tentaram organizar boicotes para forçar a redução de preços de combustíveis, com resultados duvidosos ou mesmo pouco efetivos no médio prazo. Mas o processo de sofisticação dos consumidores parece ser uma tendência sem volta.
Será que, no futuro, estaremos combatendo cartéis via Facebook?
Fonte: Exame.com